Produzido na Pesca nº 11
Só pra variar ele chegou embriagado, transbordava mais vinho que a hóstia consagrada. Entrou com a malícia e a fúria de sempre em meu quarto, e embora aquele episódio não fosse novidade nunca o vi tão transtornado e, embriagado e desesperado pra me tocar.
Me acordou com um tapa e o sangue escorreu do meu rosto, perplexo e pálido, mas não foi esse o sangue que encharcou meu lençol. Havia algo de novo naquele momento, um novo que não era bom. Eram sempre suas mãos que me violavam, mas naquela noite havia algo a mais, embora eu já o tivesse conhecido numa aula de ciência nunca o tinha visto com tanta displicência.
Ali conhecei a dor, uma nova dor. Não apenas de ter o lábio arrebentado, a intimidade violada, mas a alma transpassada por uma espada feita de músculos e veias. Ao entrar no quarto minha mãe viu o sangue do lençol e o suor em seu rosto, e enfim acreditou em tudo que eu já havia lhe contato sem que ela desse um mínimo de credibilidade.
Ordenou imediatamente que ele fosse embora, nunca mais o vi, mas nunca o esqueci, carreguei comigo por nove meses, além da lembrança daquela noite, a marca da tragédia que toda minha sede de vingança não foi capaz de matar.
Meu filho se chama Miguel, é meu anjo e meu milagre, tem hoje um terça da minha idade, mesmo minha trajetória terrena somando apenas 21 anos de idade.
Luna Pescada
nossa!
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